Hoje iremos conhecer a história de mais um convidado do nosso evento do Free Comic Book Day 2022, ele que é um dos artistas que vem ganhando cada vez mais espaço dentro do cenário nacional, com seus quadrinhos de produções independente. É um prazer podermos hoje bater um papo com, Gerson.
Ele que é criador da série de quadrinhos Graffic Noire, que já conta com dois volumes atualmente, Jersey e sua continuação Memphis. Já trabalhou para editoras como a Skript em Aurora Vermelha e Dossiê Bizarro: Demoníaco. Ele hoje, veio compartilhar um pouco da sua história com a gente, sua carreira no mundo dos quadrinhos, seus altos e baixos na vida, e sua busca por contar boas histórias. Então vem com a gente e aproveite essa conversa incrível que tivemos com ele!
(CS) Opá Gerson, primeiramente estamos muito felizes em ter sua participação em nosso evento, somos grandes fãs do seu trabalho! Mas gostaríamos muito de conhecer um pouco mais de quem é você e sua história, como começou, e seu caminho até aqui no mundo da nona arte trabalhando com quadrinhos. Diz pra mim, como você começou no mundo dos quadrinhos?
(G) Olha essa pergunta que eu sempre quis responder haha, então vamos lá! É muito gratificando ver pessoas que gosta e valoriza o nosso trabalho, que apoia e joga a gente pra cima dando aquele suporte e motivação.
Eu comecei nos quadrinhos como qualquer Brasileiro, que foi lendo Turma da Monica, especialmente eu gostava muito de ler as histórias do Horácio – E estou louco, com o resgate histórico dele, já peguei a primeira edição haha. Eu me alfabetizei bem cedo, e foi aí que eu comecei a me interessar pela maneira de se contar histórias através de imagens e texto.
Já meu primeiro contato com super-heróis, foi com o Superman nos filmes em VHS... Um dos primeiros heróis a qual eu realmente me apaixonei a primeira vista foi o Homem Aranha, porque naquela época suas histórias se identificavam muito com a minha, com as questões de bullying e afins.
Eu já desenhava quando moleque, mas eu achava meus desenhos horríveis. Mas conforme o tempo foi passando eu comecei a me interessar mais, por que comecei a conhecer pessoas que curtiam as mesmas coisas que eu. Então, eu comecei de verdade mesmo tentando desenhar muito o estilo do Todd McFarlane – Eu gostava muito da arte dele, e do Homen-Aranha que ele desenhava.
Mais a frente, durante cursos e faculdade eu comecei a desenvolver o meu próprio estilo. Durante a faculdade eu passei a maior parte do tempo mais desenhando que estudando haha. Mas foi assistindo Kill Bill, que eu conheci mais sobre o mundo do storytelling e como realmente uma história era contada.
Durante todo esse tempo, existiu um momento, em que eu parei de desenhar pois não existia mercado para quadrinhos no Brasil. Mas continuei lendo as histórias, eu larguei as histórias mais mainstream e foquei em quadrinhos e histórias underground, que me chamavam mais a atenção.
Mas voltei a desenhar quando eu conheci os trabalhos do Rafael Grampá, ele foi um cara que me trouxe uma nova energia, em um momento em que eu estava bem desiludido tanto no trabalho, quanto profissionalmente. Foi realmente um momento de comeback, por volta de 2011.
(CS) Com tantas idas e vindas da vida, é muito bom ver que você continuou e principalmente foi movido por um grande artista como o Grampá, para continuar seguindo seu caminho no mundo dos quadrinhos. Além de Grampá que é um artista de grande influência na sua vida, quais foram suas outras referências que você teve que te ajudaram a seguir no caminho dos quadrinhos?
(G) Conhecer os trabalhos do Rafa, Paul Pope, Frank Miller eu percebi, qual a direção a qual eu queria seguir na minha arte, e com tempo eu fui adquirindo outras influencias.
Conforme eu fui fazendo minha criação eu voltei muito um pouco nas referencias que eu perdi com o tempo, como o Tayou Matsumo, Takehiko Inou. E todas essas influencias me fizeram pensar em qual quadrinho eu iria fazer. Com uma pegada de crime, meio noir com bastante ação.
(CS) Você buscou um background bem solido em histórias com um foco mais em ação e crimes, ao longo de todos esses anos e esse se tornou seu gênero principal, porque seu quadrinho autoral vem com essa marca bem demonstrada tanto em seu nome quanto na arte. Como foi lançar seu primeiro quadrinho na vida depois de tanto tempo?
(G) Lançar meu primeiro quadrinho foi meio que um fiasco, tentei fazer um crowdfunding que não deu muito certo da primeira vez, então fui lá e tentei novamente mudando algumas coisas, e fiz a produção ainda que pequeno em 500 cópias, e lancei na CCXP, que foi o convite mais importante da minha vida.
No primeiro ano em que eu lancei minha HQ a CCXP me escolheu para estar lá, e isso explodiu minha cabeça, mas o ano era 2019, e em 2020 veio a pandemia e bom muita coisa aconteceu a partir daí. Então de fato eu entrei no mundo dos quadrinhos em 2019 pela CCXP, conheci muita gente boa e artistas fantásticos brasileiros e também tive a oportunidade de conhecer meus ídolos durante o evento.
(CS) E muito bom saber sobre seu inicio tanto de carreira quanto de como os quadrinhos entraram em sua vida, muito bom ver como suas influencias também te deram forças para voltar aos eixos, e que te levaram a produzir o seu primeiro quadrinho. Mas agora falando exatamente sobre ele como foi produzir do zero o quadrinho de Crime Noir, Graffic Noir Jersey, e agora seu segundo volume Memphis, o que pode nos falar sobre a concepção e bastidores da obra?
(G) A produção do Jersey, foi bem tranquila, eu comecei a desenvolver a história a anos atrás, mas ela tomou forma quando comecei a estudar na Quanta Academia de Arte, aqui em São Paulo. Eu tinha uma ideia bem grande no estilo Kill Bill que foi uma das minhas inspirações.
Mas no início a história estava bem grande, e eu precisava de uma orientação de como diminuir a história e dar uma outra forma a ela. Eu escolhi a cidade de Jersey como palco da história porque ela lembra muito a cidade onde eu moro, em São Bernardo. Eu tive que reformular a história quase toda, e retirar vários elementos e montar um quadrinho de oitenta páginas.
Eu fiz a criação de todas as paginas de forma física, e utilizava bem pouco recursos digitais porque eu estava bem enferrujado com a ferramenta do Photoshop, mas mesmo com certas dificuldades eu fiz o quadrinho relativamente sozinho, tive algumas ajudas em especial do Daniel Sousa na questão de fechamento de arquivo.
Eu fiz o projeto no Catarse duas vezes para a primeira edição da história, e durante a CCXP2019 eu fiz um novo projeto gráfico para o evento. Eu estava querendo lançar o segundo volume ainda em 2019, mas vi que por causa do tempo e outras demandas eu não daria conta... E então chegamos na pandemia, e durante o ano e 2020 o Catarse do segundo volume não atingiu a meta que eu tinha previsto no início.
(CS) Eu sei que esse é um assunto um tanto delicado, e todos vivemos momentos difíceis durante a pandemia de COVID19, vários artistas lidaram de formas diferentes com oque estava ocorrendo em suas vidas, e o mundo todo foi impactado. Como foi lidar com tudo que estava ocorrendo... A Tentativa de publicar a continuação do seu quadrinho, e lidar com todas as situações da vida durante aquela época?
(G) Com todos os problemas da Covid, sem eventos de quadrinhos as coisas começaram a ficar mais difíceis. Então foquei em outros trabalhos para tentar manter a renda... Eu cheguei a um momento de realmente desistir de tudo. Foi um momento muito complicado, porque a pandemia me atingiu com muita força.
Mas com a ajuda do Douglas da editora Skrypt que eu já havia conhecido em um evento, fui convidado a participar do primeiro Dossiê Bizarro, e isso me ajudou muito a sair um pouco da depressão que veio junto do momento a qual estávamos passando. E com ajuda de uns amigos e minha esposa e também de participar da revista, eu fui voltando aos poucos e me reerguendo.
Em 2021, eu trabalhei em aurora vermelha e fiz trinta paginas dentro do projeto, mas ao decorrer do desenvolvimento do quadrinho eu acabei pegando COVID, em Fevereiro de 2021. Foi um momento muito difícil pois fiquei intubado e toda a situação foi bem desconcertante para a família toda.
E em Março de 2021 – Já de certa forma recuperado –eu recebi uma proposta em relação ao Jersey do Douglas de colocar meu quadrinho a venda na Amazon, eram quase quatrocentas revistas na época, e foi ai que voltei ao ritmo das coisas. Retornei para finalizar aurora vermelha, e finalizar o volume dois de Jersey, que já tinha terminado seu apoio no Catarse.
Ele era um quadrinho de 88 páginas, a qual eu já tinha terminado mais ou menos umas 50 antes de tudo isso acontecer. Memphys foi um quadrinho complicado, mas eu dei o meu melhor durante a produção dele independente das dificuldades que apareceram no caminho.
(CS) A pandemia foi uma época realmente difícil. Muito obrigador pro compartilhar um pouco da sua história nesse momento complicado a qual todos tivemos que viver. Dar á volta por cima e voltar a seguir seus projetos com o apoio de todos e realmente tocante, e é seguindo em frente que podemos lidar com os acontecimentos da vida. Falando sobre seguir em frente, vamos falar um pouco sobre o futuro, quais são seus planos para o futuro, próximos quadrinhos, eventos, ideias que você pretende lançar ainda esse ano, o que você poderia nos contar sobre seus planos?
(G) Eu já estou fazendo um quadrinho novo para a editora Skrypt, que é baseado em um conto do H.P. Lovecraft, escrita pelo Romeo Martis. Ele é o meu projeto mais atual e está com previsão de ser lançando durante o evento do fuzuê nerd.
O Fuzuê Nerd foi o primeiro evento a qual eu fiz parte, ele foi produzido pelo próprio Douglas da Skrypt, e eu adoro o evento. Eu esse ano irei como convidado para o evento para expor meus trabalhos e estou bem feliz. É muito gratificante ver que as pessoas olham para o meu trabalho.
Eu pretendia fazer mais um quadrinho para o evento, mas no momento acabei me prendendo a outro projeto pessoal meu que é do meu primeiro quadrinho de ficção cientifica, eu ainda estou na fase de planejamento, mas ele irá contar a história de dois meninos que cresceram na rua, e que vivem em uma metrópole futurista.
Essa história vai ser como uma fabula de lutas de classe. Ela ainda não tem nome haha, ainda estou pensando nas ideias de qual pode ser. Mas a ideia e ser uma história bem longa espero lançar ela esse ano ou ano que vem.
Para CCXP desse ano, eu estava pensando em fazer um novo catarse, para produzir uma nova edição dos meus quadrinhos com novas páginas na primeira edição. Tenho outros projetos em paralelo também que pretendo lançar e levar comigo para os eventos.
(CS) Gerson, já conhecemos bastante sobre você, seus trabalhos e sobre seus planos para o futuro que estão por vir – Já estamos animados com esse novo quadrinho que está produzindo haha. E chegamos ao fim do nosso bate-papo. E para fecharmos bem, você teria algumas dicas para dar para quem está começando no mercado de quadrinhos ou que pensa em começar, e umas últimas palavras para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre você e seu trabalho?
(G) A primeira dica que eu tenho, é estar sempre presente nas redes sociais. Constância de postagem com seus desenhos e quadrinhos, para criar um pouco de comoção em cima do que você está produzindo nas redes, criar interesse das pessoas no seu trabalho.
A segunda dica é saber se vender. Saber se vender como artistas e um pouco difícil e leva realmente um tempo, mas é algo super importante pra quem pensa em viver da sua própria arte. Estar presente pode ser complicado as vezes, estar sempre por dentro do que está acontecendo dentro da cultura pop e o que o pessoal gosta, como as pessoas estão se comportando dentro das da comunidade, e por ai vai.
Cumprir todos os prazos também é importante haha, eu já perdi alguns trabalhos por questão de prazo, mas foque em dar o seu melhor sempre, mesmo com prazos curtos dependendo dos trabalhos que esteja fazendo... Essa foi uma dica que recebi bem no inicio da minha carreira, e sempre bom passar ela pra frente.
Procure Feedback, isso é muito importante. Tenha uma visão diferente sobre seu trabalho de outras pessoas que já são experientes no mercado, uma dica valiosa pode vir daquela pessoa que a qual você acompanha e admira o trabalho. Seguindo essas dicas é o que pode definir um pouco do rumo que as coisas podem tomar na sua carreira... com o tempo as coisas vão acontecendo.
E mais sobre mim agora, eu sempre tento fazer o melhor trabalho possível! Independente do trabalho, grande ou pequeno. Como desenhar é algo que eu gosto e amo, eu tento dar 100% de mim em cada pagina independente da história, meu foco e tentar passar o máximo de emoção com a minha arte. E eu sou muito agradecido, por todas as oportunidades... trabalhos, commissions, essa entrevista. Então é isso, acho que isso é tudo sobre mim haha, muito obrigado a todos.