Entrevista #02 - Daniel Sousa (Free Comic Book Day)

Fala ai pessoal, hoje a gente da início a nossa semana rumo ao Free Comic Book Day (FCBD)!! o/

Começando hoje até o dia 14 de Agosto quando daremos início ao FCBD teremos uma serie de entrevistas com artistas da comunidade brasileira , onde eles vão falar sobre os seus trabalhos, paixões e hobbies e nessa jornada de conversa de boteco vamos descobrir um pouco mais sobre esses talentosos artistas para que dia 14 de Agosto a gente de fato lance os produtos exclusivos do FCBD na loja.

Fiquem ligados, pois iremos fazer os comunicados nas nossas redes sociais e newsletter, mas vamos lá pra esse bate papo aqui que ficou muito bom...

Daniel Sousa é um quadrinista independente, autor dos quadrinhos Entrespaço e Tachyon. Se destacou no mundo dos quadrinhos participando como artistas nos quadrinhos de publicação independente VHS (Vencedora do Troféu HQMix 2020 de melhor publicação independente de grupo), Bar do Pântano (Indicado ao Troféu Ângelo Agostini 2019 de Melhor Lançamento Independente), Histórias para Não Dormir, Skiptzine – Horror Cósmico, entre outros. Um artista que segue uma linha de publicações e trabalhos onde gosta de abordar temas mais existenciais e psicológicos.

Vamos então, conhecer um pouco sobre o Daniel, seu trabalho, e futuros projetos dentro do meio dos quadrinhos, para aqueles que estão curiosos acompanhem nossa entrevista com ele.

(CS) Opá Daniel, tudo bem? É um prazer ter a oportunidade de te entrevistar e conhecer mais sobre seu trabalho como quadrinista, então eu tenho uma curiosidade, como você começou no mundo dos quadrinhos?

(DS) Opá Vitor tudo ótimo. Cara eu comecei a desenhar meio tarde. Eu sempre gostei de quadrinhos, e sabia que queria fazer isso um dia, mas as coisas sempre foram entrando na frente, sabe como é, trabalho, contas família, etc.

Eu comecei a ter mais vontade de desenhar quadrinhos quando conheci artistas com um traço digamos, não tão convencional, como Dave McKean, Kent Williams, Bill Sienkiewicz, Jock, Jeff Lemire, entre outros. É claro que adoro o pessoal com o estilo mais convencional dos quadrinhos de super-herois por exemplo, mas essa coisa do traço mais sujo sempre me atraiu, e é o caminho que mais me identifiquei e sigo trabalhando.

 

(CS) Muito bacana, adorei suas referências, e o estilo mais sombrio de arte, é realmente bem visível no seu traço. O que você tem gostado de desenhar ultimamente?

(DS) Como eu disse antes, consumo quadrinhos de super-herois até hoje, e até por isso quando não estou desenhando minhas páginas de quadrinhos, muita coisa do que eu acabo postando são personagens clássicos, como o Galactus, Batman, Monstro do Pântano. Não nego que seria divertido um dia assumir um título mainstream para uma das grandes, mas quem sabe um dia, o sonho ta ai de um dia desenhar um arco do Cable (haha).

 

(CS) Sim, tem que colocar essa meta mesmo, um dia vai estar num título do Cable certeza, mas quem sabe um Monstro do Pântano, tudo é possível. Você mencionou sobre desenhar suas paginas de quadrinho, diz pra mim, em quais quadrinhos você trabalhou ou tem trabalhado?

(DS) Muitas pessoas associam, e me convidam, muito para trabalhos com o gênero de terror, e por isso participei de algumas coletâneas e publicações independentes bem bacanas, como Bar do Pântano, VHS, Dossiê Bizarro, Histórias para Não Dormir, Skriptzine - Horror Cósmico.

De todas essas, apenas na primeira Dossiê Bizarro – o segundo volume já está em produção – é que eu escrevi um roteiro de terror, enquanto nas outras assumi apenas a arte. Até o momento escrevi apenas dois quadrinhos, Entrespaço e Tachyon, estou com uma terceira ainda em produção, sempre abordando temas mais existenciais e psicológicos, que são os que mais me identifico.

 

(CS) Sim, seu traço e arte são realmente puxados mais pro terror, isso chama muita atenção porque dá uma personalidade pra ele. E você já teve muitos trabalhos, mas como foi a experiência de produzir do zero seus primeiros quadrinhos? Desenhar, escrever, produzir... Sei que não é algo fácil.

(DS) Foi divertido. Eu parti do mesmo princípio que eu falo quando alguém me pergunta sobre como começar a fazer quadrinhos: só vai sair se você sentar a bunda na cadeira e escrever/desenhar (hehehe).

Se você decidir que só vai publicar algo quando chegar no nível de ser o próximo Mignola ou Gaiman, vai publicar é nunca. Fazer quadrinhos, de maneira independente, hoje é muito mais fácil do que à 10 ou 20 anos atrás. Hoje você tem gráficas com preço acessível para tiragens baixas, plataformas de financiamento coletivo e redes sociais. E sério, esse é todo o incentivo que você precisa para tirar o seu projeto da cabeça e colocar no papel.

Então sabendo que o pior que poderia acontecer é as pessoas não gostarem, não tinha por que não fazer. O roteiro da minha primeira HQ, Entrespaço, veio de um pequeno conto que escrevi por volta de 2008 ou 2009. Como eu mencionei antes, gosto de abordar assuntos existenciais e psicológicos, e a trajetória do astronauta era um reflexo que situações que eu estava vivendo na época. Tentei contar a história sem soar como algo muito íntimo, e acredito que deu certo.

 

(CS) Sim, realmente se não chegar lá, e colocar os dois pés na porta, e fazer nunca vai sair (haha). E como foi lançar os quadrinhos nos eventos, como FIQ e CCXP, sei que já participou desses eventos, como foi a experiência do primeiro lançamento?

(DS) Fui aprovado para o Artists' Alley do FIQ de 2018 para lançá-la, e o retorno por parte do público foi muito bacana. Entrespaço ainda é a HQ que mais vendo, e sua segunda impressão já está começando a esgotar. Desde então, pude participar de todos os eventos que me inscrevi - FIQ, CCXP e eventos regionais menores - e a cada participação o retorno dos leitores valida mais ainda a minha vontade de seguir produzindo, lembrando que esse é um mercado que não dá dinheiro a não ser que você trabalhe com as grandes, claro.

Ainda não cheguei lá (hahaha) mas o primeiro passo já foi dado. Tenho algumas capas variantes que sairão sob uma editora norte americana no final de 2021, talvez início de 2022, e contatos estão sendo feitos.

Uma coisa triste é que eu fui aprovado para duas edições do Toronto Comic Arts Festival (TCAF), mas acabei cancelando as duas, nas na próxima vez vai dar certo (haha)

(CS) Você tem alguma dica para quem está começando nesse meio e sonha em fazer parte do mundo dos quadrinhos?

(DS) O principal é não se apressar e saber onde você se encaixa. Eu sei que o meu estilo, por exemplo, não é o material de um X-Men ou Batman, mas isso não me impede de cavar um espaço dentro do nicho em que gosto de trabalhar, e com certeza esse resultado vai render frutos no futuro. E enquanto isso não acontece de fato, continuo produzindo de maneira independente ou para editoras brasileiras que tem um foco bem grande no quadrinho autoral - outra coisa que praticamente não existia de maneira consolidada há uma ou duas décadas atrás por aqui.

 

(CS) Sim, atualmente está tendo um grande movimento das editoras por trabalhos autorias, você teve trabalhos com a própria Skript Editora, você foi até eles ou eles que estavam em busca de artistas para participar da Skriptzine?

(DS) Acho que o primeiro contato com o Douglas (editor da Skript) foi pelo Eric Peleias(Roteirista de quadrinhos). O Douglas estava produzindo um livro de colorir com temática lovecraftiana, e queria incluir um quadrinho. O Peleias sugeriu usar a nossa história que saiu pela Histórias para Não Dormir, e o contato começou aí.

Depois fiz a Dossiê Bizarro, com organização do Alex Mir. Para a Skriptzine, a seleção acredito que já havia terminado, e o Celio Cecare me perguntou se queria tentar uma história curta. Perguntei pro Douglas se ainda dava tempo de enviar, e ele me garantiu quatro páginas e entraríamos como convidados, pois gostava muito do meu trabalho (o que foi bem legal da parte dele). Aliás, importante falar também do Raphael Fernandes da Editora Draco, que sempre deu aquela força incentivando todo mundo, inclusive eu. Esse meio está cheio de gente bacana pra se ajudar, mas ele foi o primeiro (ou seja, a culpa é dele).

 

(CS) Mas depois de todo esse tempo, indo de pouco em pouco, ganhando reconhecimento, produzindo e ganhando seu espaço. O que tem sido desenhar quadrinhos pra você? Desenhar, fazer parte desse meio, tem sido como? Tem tocado outros projetos em paralelo?

(DS) Contar boas histórias é tudo o que eu sempre quis fazer, seja escrevendo ou desenhando, e hoje isso está começando a acontecer. Fazer isso é o que me mantém são, ainda mais em tempos de insegurança como o que estamos passando no Brasil nos últimos anos.

Ainda não dá pra viver exclusivamente disso, mas tem feito parte cada vez maior do orçamento: venda dos quadrinhos, de ilustração e de arte original e encomendas. Claro que não vejo quadrinhos como um objetivo econômico, mas a gente tem que pagar as contas, né?

Voltei a tocar guitarra depois de uns 15 anos parado, e isso tem me ajudado também. São projetos paralelos, mas sem ambição. Acho que compor ajuda a trabalhar outras partes do cérebro, apesar de ainda ser uma forma de expressar a criatividade.

Tenho alguns projetos voltados para jogos também - cheguei a lançar alguma coisa para Android a alguns anos, e estava para começando o desenvolvimento de um jogo para PC quando resolvi entrar de cabeça na produção de quadrinhos.

Mas no momento, o foco é 100% nos quadrinhos. Gibis foram a primeira mídia pela qual me apaixonei, desde que aprendi a ler, e poder fazer isso hoje vai muito além do que simplesmente encarar isso como "trabalho".

 

(CS) Sim, a música ajuda muito e deve servir até de inspiração, quem sabe um dia não sai um quadrinho sobre rock, ia ser legal (haha). E Daniel diz pra mim, quais são seus projetos futuros no meio dos quadrinhos, o que vai sair do forno e o que está indo pra ele?

(DS) (hahaha) Anda tudo bem devagar, mas o que tem no forno é: um quadrinho de cerca de 80 páginas com roteiro do Alex Mir que ainda não posso divulgar o título, mas adianto que é uma distopia não futurista. 8 páginas para o segundo volume da Dossiê Bizarro pela Skript, com roteiro do Celio Cecare, e um novo quadrinho autoral meu que deve girar em torno de 60-80 páginas, que segue e, talvez, feche o que comecei com Entrespaço e Tachyon. Se tudo der certo, todas saem no final do ano, mas vamos ver como as coisas caminham.

 

(CS) Para finalizar, pro pessoal que está vendo seu trabalho que temos a honra de estar divulgando durante o Free Comic Book Day, você gostaria de deixar uma mensagem pro pessoal que vai ver sua arte e seus trabalhos?

(DS) Bom, antes de mais nada, agradeço imensamente o convite da CS para participar do evento. Para o pessoal que já conhece ou está conhecendo agora o meu trabalho, é uma honra poder mostrá-lo neste espaço, e realmente espero que agrade. Na falta de eventos presenciais, quero aproveitar essa oportunidade para manter o contato com o público que acompanha o quadrinho brasileiro independente, e convido a todos a entrar em contato através de minhas redes sociais.

Estou em constante evolução do meu traço, e justamente por isso (e também para honrar a tradição do FCBD), todas as artes que forem encomendadas durante o evento, a partir do dia 14 de Agosto, serão enviadas junto com uma edição da minha primeira HQ, Entrespaço, numerada, autografada e com um pequeno sketch. Fico muito curioso para saber o que acharam da história, e é uma chance de comparar meus primeiros passos na nona arte com o ponto que me encontro agora!

 

1 comment

Juliano

Juliano

Daniel manda muito bem, adoro esse trabalho “sujo” dele.
Já peguei as edições autorais que ele fez e sempre recomendo.

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